Definição de DPOC
A doença pulmonar obstrutiva crônica – DPOC – é caracterizada pela limitação crônica do fluxo aéreo que não é possível de ser totalmente revertida e que geralmente evolui progressivamente para piora da função pulmonar e da qualidade de vida.
Está associada a uma resposta inflamatória dos pulmões à inalação de partículas ou gases e, mesmo que o paciente se abstenha da exposição aos fatores de risco, não é possível parar completamente o curso natural da doença.
Epidemiologia e fisiopatologia da doença
Trata-se de uma doença bastante prevalente, estima-se que seja a terceira maior causa de mortes no mundo e a sexta no Brasil. Além disso, é uma doença que traz muita incapacidade física, de modo que traz impactos econômicos e na saúde mental dos pacientes.
A incidência é maior em homens que em mulheres, entretanto, provavelmente isso se associa a maior prevalência do uso de tabaco em homens que mulheres no passado, visto que o aumento do tabagismo em mulheres tem reduzido essa diferença.
A DPOC é uma doença multifatorial, pois há interação de fatores ambientais e do hospedeiro. Entre os primeiros, temos a exposição ao fator de risco ambiental, principalmente o fumo, entretanto há outros como poeira ocupacional, irritantes químicos e poluição intradomiciliar, como fogão à lenha.
Já em relação ao hospedeiro, existem alterações genéticas relacionadas à doença, como a deficiência de alfa-1-antitripsina, hiperresponsividade brônquica, desnutrição, prematuridade, entre outros.
No desenvolvimento da DPOC, ocorre a inflamação crônica de vias aéreas, parênquima e vasos pulmonares devido à inalação de partículas e gases. Esse processo leva ao acúmulo de macrófagos, neutrófilos e linfócitos T que liberam mediadores inflamatórios, como leucotrieno B4, IL-8, TNF-alfa, entre outros, que lesam as estruturas pulmonares, causando um processo de destruição e reparação.
Isso promove hipersecreção de muco e redução da quantidade de cílios, remodelamento estrutural, com deposição de colágeno e aumento da musculatura lisa, que promove a obstrução da via aérea, e destruição do parênquima pulmonar.
Quadro clínico da DPOC
Geralmente os sintomas da DPOC aparecem após a perda importante da função pulmonar, com VEF1 inferior a 50%. Na história clínica típica, há um paciente com exposição a algum fator de risco, com tosse e expectoração crônicas e que passa a apresentar dispneia. Outros sintomas que podem surgir com a doença são sibilância e sensação de opressão no tórax. Em casos mais avançados, há emagrecimento e hiporexia.
O exame físico desses pacientes podem ser normais ou discretamente alterados, com aumento do diâmetro anteroposterior do tórax, redução da expansibilidade pulmonar, estertores finos, entre outros achados não muito específicos para a DPOC.
Diagnóstico da doença
O diagnóstico da DPOC baseia-se na anamnese e exame físico compatíveis com a doença associados à espirometria que comprove o quadro de obstrução não-reversível após uso de broncodilatador. Para isso, é necessário que o exame comprove uma relação VEF1 / CVF inferior a 70% após broncodilatação.
Podemos caracterizar a doença em estágios de acordo com a limitação de fluxo aéreo, conforme o GOLD (Global Initiative For Chronic Obstructive Lung Disease), descritos abaixo:
- Gold 1: VEF1/CVF <70%; VEF1 pós-broncodilatador maior ou igual a 80% do normal previsto, com ou sem sintomas crônicos;
- Gold 2: VEF1/CVF <70%; VEF1 pós-broncodilatador maior ou igual a 50% e menor que 80% do normal previsto, com ou sem sintomas crônicos;
- Gold 3: VEF1/CVF <70%; VEF1 pós-broncodilatador maior ou igual a 30% e menor que 50% do normal previsto, com ou sem sintomas crônicos; e
- Gold 4: VEF1/CVF <70%; VEF1 pós-broncodilatador menor que 30% do normal previsto, VEF1 pós-broncodilatador menor que 50% do normal previsto associada a insuficiência respiratória crônica (PaO2< 60 mmHg em ar ambiente e no nível do mar).
Também é possível classificar a DPOC de acordo com o risco de exacerbação e pelos sintomas, tendo por base o mMRC, que avalia o grau de dispneia do paciente, a avaliação CAT, análise que abrange o impacto dos sintomas na qualidade de vida do paciente, e o número de exacerbações moderadas ou severas, conforme a tabela abaixo:
>2 exacerbações ou ≥ 1 com admissão hospitalar | C | D |
0 ou 1 exacerbação que não leve a admissão hospitalar | A | B |
mMRC 0-1 CAT<10 | mMRC ≥ 2 CAT ≥ 10 |
Tratamento da DPOC
O tratamento da DPOC é feito de acordo com o grupo no qual o paciente se encontra. As principais medicações utilizadas são os beta-2 agonistas de longa duração (BALD) ou antagonistas muscarínicos de longa duração (LAMA), que agem como broncodilatadores de longa duração (LABA), beta-2 agonistas de curta duração, que agem como broncodilatadores de curta duração (SABA) e os corticoides inalatórios.
Para o Grupo A, recomenda-se o uso de de um LABA, associado a um SABA para resgate. Já o Grupo B, o LABA e o SABA são de uso contínuo, com reabilitação pulmonar. Em pacientes do grupo C, obrigatoriamente se usa LAMA com SABA e reabilitação pulmonar. Já no grupo D, introduz-se o corticoide inalatório e avalia-se a necessidade de uso de oxigenoterapia, ventilação não invasiva e cirurgia, como redução do volume pulmonar e transplante.
Além disso, para todos os pacientes, independentemente do grupo, é preciso evitar a exposição aos fatores de risco, vacinar para influenza e pneumocócica e estimular a realização de atividades físicas.
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