A prematuridade é uma realidade que desafia os profissionais da neonatologia, por apresentarem maior risco de desenvolver distúrbios respiratórios. Dentre eles, podemos destacar a apneia da prematuridade, que vamos abordar nesse post.
Saiba mais
Definição
A apneia da prematuridade é caracterizada por episódios de pausa na respiração que duram mais de 20 segundos, ou episódios menores (5 a 10 seg) que se associam a bradicardia ou dessaturação em recém-nascidos prematuros (IG < 37 semanas). Sendo assim, prematuros extremos, com 28 semanas, possuem risco particularmente elevado para essa condição.
Apneia da prematuridade: Fisiopatologia
A fisiopatologia da apneia da prematuridade é complexa e multifatorial. A imaturidade do sistema respiratório é um fator chave, especialmente a falta de maturação dos centros respiratórios no tronco cerebral.
Além disso, problemas relacionados à regulação da pressão arterial, ajustes na concentração de oxigênio, baixa sensibilidade dos quimiorreceptores a PaCO2, resposta bifásica à hipoxemia, tendência à inibição pela presença de GABA, endorfinas e adenosina, contribuem para que essa condição aconteça.
Ademais, outro fator que corrobora para a piora do quadro é a hiperbilirrubinemia indireta, que pode inibir o centro respiratório.
Fatores Associados
Quanto mais novo o prematuro é, mais ele te o risco de apresentar episódios de apneia. Entretanto, outros fatores podem ser contribuintes por dificultar a hematose, como:
- Redução do tônus da musculatura hipofaríngea, que pode ser agravada com posionamento em flexão do RN, e desencadear a apneia com o sono REM (Rapid Eyes Movement);
- Obstrução nasal, lembre-se que RNs possuem predominantemente respiração nasal;
- Anormalidades anatômicas: edema de laringe, disfunção de cordas vocais, estenose traqueal;
- Reflexos de proteção da via aérea superior (frente a um fator agravante);
Classificação da apneia da prematuridade
Desse modo, a classificação da apneia pode ser:
- Central: Ausência de esforços inspiratórios;
- Obstrutivas: esforços inspiratórios persistem, mas são ineficazes na presença de obstrução das vias aéreas superiores;
- Mista: presença de obstrução adicionado a esforços inspiratórios que precedem ou seguem a apneia central;
Manifestação Clínica
Os sinais clínicos da apneia da prematuridade podem variar de episódios leves a graves, afetando o bem-estar geral do recém-nascido.
Geralmente esses episódios ocorrem do segundo ao terceiro dia de vida, em prematuros que estão em suporte ventilatório ou não, e ocorre a resolução por volta das 37 semanas de vida, na maioria dos casos, exceto em prematuros extremos, que o quadro pode prolongar mais (como 43 semanas de idade corrigida).
Além das pausas na respiração, podem ocorrer bradicardia e cianose.
Ademais, bebês prematuros afetados por essa condição também podem ter dificuldade na alimentação, ganho de peso insuficiente e problemas de desenvolvimento neuromotor.
Diagnóstico da apneia da prematuridade
O diagnóstico da apneia da prematuridade envolve a identificação de episódios de pausas respiratórias e sintomas associados. Para isso, a monitorização contínua e observação clínica são fundamentais.
Diagnósticos diferenciais
Alguns exames e testes podem e devem ser realizados para diferenciar a apneia da prematuridade com outras causa de apneia como asfixia perinatal, sepse, hipoglicemia, desordens neurológicas, anomalia congênita de vias aéreas, exposição neonatal a drogas supressoras, como opióides entre outras causas.
Tratamento
Medidas gerais
Desse modo, são medidas instituídas para diminuir o risco de apneia, como:
- Controle de temperatura;
- Postura do RN: evitar hiperflexão ou extensão cervical;
- Manter permeabilidade de vias aéreas;
- Suplementar O2 visando manter a saturação entre 90 e 95%;
- Monitorização ativa dos sinais vitais, especialmente em RNs com idade gestacional < 35 semanas;
Suporte respiratório
A utilização do CPAP (“Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas”), pode ocorrer para suporte ventilatório e manter uma respiração efetivas em RNs que apresentam apneia, especialmente se são acompanhados de episódios de cianose e bradicardia.
Outras opções que podem ser utilizadas, entretanto, com menos eficácia que o CPAP como a cânula de alto fluxo, cânula de baixo fluxo e ventilação nasal intermitente.
Alguns prematuros mesmo com as medidas ventilatórias do CPAP e uso da cafeína, mantém apnéia clinicamente significativa, sendo, portanto uma indicação para intubação orotraqueal e ventilação mecânica invasiva.
Apneia da prematuridade: Abordagem medicamentosa
As principais medicações utilizadas para conuzir os casos da apeia da prematuridade são a Cafeína e a Teofilina, metilxantinas que atuam estimulando as vias neurais da mecânica respiratória.
A CAFEÍNA geralmente tem preferência por possuir uma meia vida maior (65-100h), maior segurança e menor riscos de efeitos adversos.
Dessa forma, as indicações do uso da cafeína são:
- Lactentes com episódios frequentes de apnéia documentados, prolongados ou associados a bradicardia e/ou dessaturação de oxigênio;
- Lactentes com crises de apnéia que requerem intervenção com bolsa e máscara de ventilação ou múltiplos episódios de estimulação tátil;
- Profilaxia de apneia em RNs prematuros extremos (< 28 semanas), geralmente realizada até o terceiro dia de vida;
- Para facilitar extubação de prematuros extremos;
Como administra?
A administração da cafeína divide-se em duas etapas, a primeira consiste em uma dose única de ataque, seguida de uma dose de manutenção a cada 24 horas, iniciando após 24h da dose de ataque, até a finalização do tratamento. Lembrando que administração ocorre por via endovenosa.
Solução aquosa de citrato de cafeína (20 mg/ml) | Dose de Citrato de cafeína (Volume) | Dose de Citrato de cafeína (mg/kg de peso) | Infusão |
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Dose de ataque | 1 ml/kg de peso corporal | 20 mg/kg de peso corporal | Durante 30 minutos |
Dose de manutenção | 0,25 ml/kg de peso corporal | 5 mg/kg de peso corporal | Durante 10 minutos |
O diagnóstico e tratamento da apneia da prematuridade têm evoluído significativamente, graças aos avanços na compreensão da fisiopatologia e ao desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais eficazes.
A implementação de estratégias como o uso da cafeína e a abordagem personalizada baseada nas necessidades do bebê contribuem para uma melhoria nos resultados de saúde e no bem-estar dos recém-nascidos prematuros.
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