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Saiba como diagnosticar Delirium e Demência

A incidência de casos de Delirium, Demência e Depressão é bastante elevada na população idosa. Dentre essas, Delirium apresenta-se como um dos mais danosos para esse público e, segundo o Tratado de Geriatria e Gerontologia, pode ser conceituado como “Síndrome cerebral orgânica, sem etiologia específica, caracterizada pela presença simultânea de perturbações da consciência e da atenção, da percepção, do pensamento, da memória, do comportamento psicomotor, das emoções e do ritmo sono-vigília. A duração é variável, e a gravidade varia de formas leves a formas muito graves”.  

O Delirium acomete pouco dos idosos que vivem em comunidade, mas a incidência entre aqueles em UTI chega a 80%. A prevalência nas unidades de urgência chega a 40% e em pós-operatórios a 60%. O prognóstico de delirium é o pior durante e após a internação, pois está associado a maiores taxas de mortalidade, custo de saúde e tempo de internação. A incidência dele se relaciona com a qualidade do atendimento hospitalar (iatrogenia), uma vez que de 36 a 67% dos casos sequer é diagnosticado ou recebe um quadro de demência ou depressão incorretamente. 

Tipos de Delirium

  1. Hipoativo: Em geral, ocorrem por distúrbios metabólicos ou processo infecciosos. Podemos reconhecer que o idoso se manifesta com sonolência, redução da ingestão alimentar e lentificação das ações. 
  2. Misto (com características do hipo e do hiperativo)
  3. Hiperativo: Esse tipo se relaciona com intoxicação ou abstinência de medicamentos ou álcool Diferentemente do hipoativo, o idoso se apresenta com ações aceleradas e impulsividade.

Diferença entre fatores predisponentes e precipitantes

Apesar de sutis, esse fatores têm diferenças quando falamos de apresentação do Delirium. Os predisponentes são condições ou características que aumentam a susceptibilidade do idoso a desenvolver a síndrome, já ps precipitantes estão relacionados a eventos que desencadeiam o início ou aumento do episódio de Delirium. Vamos ver alguns: 

PredisponentesPrecipitantes
Déficit cognitivo prévioRestrição física
DepressãoUso de sonda vesical 
AlcoolismoIatrogenias
historico de AVCAmbiente não familiar
Deficit sensorial Privação de sono

Observação: no peri-operatório alguns tipos de anestesia, hipotensão, hipóxia, dor, infecção, analgesia, sedação, imobilização e outros fatores também podem ser precipitantes de uma crise de Delirium.

Possíveis Causas

A síndrome pode ser ocasionada , como já exemplificados em fatores predisponentes, por substâncias (como anticonvulsivantes, fármacos hipotensores, corticoides, bloqueadores H2, etc), por infecções (como meningite, pneumonia, septicemia, pielonefrite), por doenças cardíacas (como arritmias, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva), distúrbios metabólicos (hipoglicemia, hipóxia, insuficiência hepática), transtornos de sistema nervoso central, neoplasia, traumatismos e mudança de ambientes.

Critérios Diagnósticos

O método mais utilizado é o diagnóstico por CAM-ICU:

Característica 1 + Característica 2 + Característica  3 ou 4 = Delirium 

  • Característica 1: Início agudo (em dias ou semanas) da alteração do estado mental ou com padrão flutuante;
  • Característica 2: Comprometimento da atenção;
  • Característica 3: Pensamento desorganizado;
  • Característica 4: Alteração do nível de consciência.

Prevenção e Tratamento

De modo geral, podemos aplicar algumas medidas:

Medidas não farmacológicasMedidas farmacológicas
Orientações e estímulo cognitivoAntipsicóticos (em geral o fármaco de escolha) como haloperidol
Redução de ruído noturno com hábitos calmantesAntipsicóticos atípicos (pode aumentar risco de AVE naqueles com demência) como Risperidona
Evitar privação de sonoBenzodiazepínicos (causa sonolência) como Lorazepam
Mobilização precoce para evitar condições restritivasAntagonista do receptor (testado apenas em estudos não controlados) como Trazodona
Corrigir desidratação
Ofertar O2 se necessário
Tratamento de dor
Retirar medicamentos do sistema nervoso
Corrigir distúrbio hidroeletrolítico
Tratamento de constipação

Detalhe importante

Antes de qualquer coisa, precisamos verificar o diagnóstico diferencial para Delirium, Demência, Depressão e outras Psicoses funcionais para não errarmos o cuidado administrado!

Definição de Demência

demência é um termo popular que engloba diversas condições neurodegenerativas, como o Alzheimer, responsável por até 70% dos quadros demenciais, caracterizadas por perda progressiva das funções cognitivas, como memória, linguagem e raciocínio.

No geral, essa condição é mais comum em idosos, porém também pode ocorrer em pessoas mais jovens. Além disso, é necessário ressaltar que a demência também afeta a saúde mental do paciente, mas também dos familiares.

Desse modo, sabe-se que a demência possui um processo que ocorre em estágios, sendo eles:

  • estágio inicial: lapsos de memória leves, dificuldade em lembrar nomes e encontrar palavras;
  • estágio leve: dificuldade em realizar tarefas cotidianas, desorientação em lugares familiares, mudanças sutis no comportamento;
  • estágio moderado: problemas de memória agravados, dificuldade em se expressar verbalmente, necessidade de assistência para atividades diárias;
  • estágio moderadamente avançado: desafios significativos na comunicação, necessidade de ajuda para vestir-se, comer e higiene pessoal;
  • estágio avançado: assistência constante para cuidados pessoais, deterioração contínua da memória e comunicação, possível perda de mobilidade;
  • estágio severamente avançado: perda da capacidade de comunicação verbal, problemas de deglutição, total dependência de cuidados;
  • estágio terminal: debilidade intensa, perda significativa de habilidades físicas e cognitivas, cuidados paliativos para garantir conforto.

Principais características

Boa parte dos sintomas incluem:

  • alterações na memória, com dificuldade para se lembrar de fatos recentes e antigos;
  • problemas na concentração;
  • dificuldades para formar raciocínios;
  • problemas para se lembrar de palavras;
  • desorientação e confusão;
  • dificuldade para realizar tarefas que fazem parte da rotina, como escovar os dentes, entre outros.

Como identificar?

No momento, ainda não existem exames específicos para relatar esta condição. Entretanto, é realizado uma exclusão de outras possíveis causas para os sintomas, e em seguida, um check-up completo com exames laboratoriais e de imagem. Com base nisso, o Ministério da Saúde publicou um roteiro e fluxograma voltado para profissionais de saúde, intitulado “Identificação da Demência na Atenção Primária”, no qual também orienta como aplicar questionários para melhor identificação.

Desse modo, confira o fluxograma apresentado por Paulo Caramelli, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divide o processo em três etapas:

  • A identificação, feita por meio da Caderneta da Pessoa Idosa ou demanda espontânea;
  • O rastreamento cognitivo inicial, que pode ser aplicado por qualquer profissional de saúde usando o método 10-CS com o paciente, ou o método QMC8 com o acompanhante, que inclui atividades como a memorização de figuras; e
  • A avaliação médica.

Veja o documento completo para demais informações!

Como é o tratamento?

Embora não exista cura para demência, é possível realizar alguns tipos de tratamentos promissores na redução a progressão dessas condições. Alguns deles incluem:

  • medicamentos inibidores da colinesterase;
  • uso de canabinoides;
  • terapia ocupacional;
  • estimulação cognitiva;
  • cuidados com a saúde mental;
  • nutrição adequada.

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Kiara Adelino
Kiara Adelino
Estudante do 2º semestre de Medicina. Adoro qualquer atividade que envolva mexer o corpo e aprender coisas novas.
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