A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é a endocrinopatia mais comum no menacme. Ela não apresenta, na atualidade, etiologia completamente conhecida (podemos incluir teorias genéticas, multifatoriais e poligênicas na origem dessa condição). As mulheres diagnosticadas demonstram heterogeneidade de manifestações clínicas, por isso estabelecer o diagnóstico é difícil. Um fato importante a se ressaltar é que em cerca de 80% dos casos a SOP decorre de hiperandrogenismo, com quase metade das mulheres com infertilidade. Contudo, devemos nos atentar ao fato que até ¼ da população jovem apresenta USG com ovários semelhantes ao de pacientes com SOP.
Como podemos reconhecer?
Existem 2 pontos principais em relação aos mecanismos que envolvem a SOP:
- Hiperinsulinemia (aumenta a produção de androgênios,pela ação sinergética nas células da TECA, causando aumento a resistência insulina e hiperglicemia)
- Hiperandrogenismo (como há alteração na pulsatilidade do GnRH, observa-se a conversão de andrógenos em estrona, ocasionando uma proliferação endometrial)
Esses mecanismos têm uma repercussão sistêmica sobre a mulher, posto que a hiperinsulinemia está relacionada à Síndrome metabólica e o hiperandrogenismo a irregularidade menstrual e anovulação. A SOP tem fatores genéticos bem proeminentes, apesar de o padrão de herança ser poligênico e ela apresentar graus de penetrância diferentes. Essa diversidade de fatores, aliado aos ambientais e epigenéticos dificultam a identificação precisa e ocasionam os diferentes fenótipos.
Quais as possíveis queixas da paciente?
Como já pontuamos, os sinais e sintomas podem variar entre as pacientes, mas dentre eles podemos destacar:
- Hiperandrogenismo: a quantificação é feita pelo índice de Ferran-Gallwey (valores maiores que 6, mas para orientais, maiores que 4). Identificamos acne, seborreia, alopecia hiperandrogênica e sintomas de virilização).
- Anovulação: os ciclos menstruais são muito longos (maiores que 35 dias), há amenorreia e sangramento uterino anormal de causa ovulatória.
- Infertilidade: ocorre devido à anovulação crônica. Podemos identificar, também, aumento da frequência de abortamento precoce.
- Síndrome metabólica: como causa da hiperinsulinemia, podemos ver que ela resulta em sinais como acantose nigricans, intolerância à glicose e DM do tipo II. Relacionado a esse sinais, as pacientes podem apresentar Hipertensão Arterial Sistêmica e Dislipidemia.
Como fazer o diagnóstico?
O diagnóstico de SOP ocorre por exclusão, mas precisa preencher alguns critérios. Depois de excluídas as outras possíveis causas (como Tumor adrenal ou ovariano, Disfunções tireoidianas e causas externas para a anovulação), usamos os critérios de Rotterdam (2018) para obter um diagnóstico (tendo pelo menos 2 ou 3 dos critérios):
- Hiperandrogenismo clínico ou laboratorial;
- Ciclos anovulatórios;
- USG com imagem sugestiva (1. presença de 20 ou mais folículos com tamanho de 2 a 9mm em pelo menos um dos ovários/ 2. volume ovariano com valores iguais ou maiores que 10cc em pelo menos um dos ovários).
E o tratamento?
A primeira indicação a ser feita a paciente é a mudança do estilo de vida, introduzindo atividade física e alimentação saudável no cotidiano. Ainda assim, podemos entrar com o cuidado medicamentoso por meio da Metformina ou Análogos do GLP1. Os medicamentos são mais indicados nos casos de pacientes intolerantes à glicose, acantose nigricans ou obesas com antecedentes familiares de DM2. A cirurgia (bariátrica no caso) somente é indicada em pacientes com obesidade II ou mais e refratárias, além da obesidade mórbida associada a falha no tratamento clínico.
Quando focamos nos efeitos do hiperandrogenismo, devemos oferecer um tratamento centrado na proteção endometrial, com progestagénio e anticoncepcional combinado oral, conforme as demandas da paciente.
Por fim, o tratamento para infertilidade envolve, inicialmente MEV + Metformina (evitando antiandrogênicos ou contraceptivos), seguido de indução da ovulação (para coito programado ou IIU) , letrozol (a primeira escolha), clomifeno ou gonadotrofinas (segundas escolhas) e, em casos extremos FIV (alto risco para estímulo ovariano).
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