A Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) ou Síndrome da Deficiência Respiratória Aguda (SDRA) é uma reação inflamatória que atrai células inflamatórias, principalmente macrofagos e neutrófilos. Desse modo, devido ao aumento da permeabilidade vascular decorrente da inflamação, gera-se uma resposta inflamatória vigorosa com presença de muitos marcadores. A inflamação destrói pneumócitos e o surfactante também é comprometido à medida que o alvéolo é inundado por fluido inflamatório.
Relatos Históricos
O primeiro relato de SDRA ocorreu na Revista Científica Lancet, em 1967: Identificaram que os pacientes tinham lesão alveolar importante e a complacência pulmonar era diminuída, e apresentavam relação de troca ruim. Geralmente com acidose e frequência respiratória alta.
Em 2005, o conceito de “baby Lung” foi introduzido no reconhecimento científico da condição. Nele podemos identificar que a massa funcional dos pulmões se encontrava reduzida, devido as porções posteriores e inferiores do pulmão totalmente acometidas pelo infiltrado naqueles pacientes diagnosticados. Antes do infiltrado, o volume pulmonar era maior, mas com o infiltrado houve perda de parênquima pulmonar, deixando, em tese, o pulmão menor (como o de um bebê) e a troca gasosa comprometida (já que temos uma área não ventilável/perfundivel.
Classificação do paciente
Para identificarmos corretamente a gravidade do SARA, podemos nos guiar pelas Definições de Berlin:
Critérios | Leve | Moderada | Grave |
Tempo de Início | Aparecimento súbito dentro de 1 semana após exposição a fator de risco ou aparecimento ou piora de sintomas respiratórios | ||
Hipoxemia (PaO2/FiO2) | 201-300 com PEEP/CPAP > 5* | 101-200 com PEEP > 5 | < 100 com PEEP > 5* |
Origem do edem | Insuficiência respiratória não claramente explicada por insuficiência cardíaca ou sobrecarga volêmica | ||
Anormalidades Radiológicas | Opacidades bilaterais** |
*ESICM 2023 sugeriu retirar a necessidade de PEEP como critério diagnóstico e sugeriu CNAF como primeira opção em IRpA hipoxêmica.
**Não explicados por nódulos, derrames, massas ou colapsos lobares/pulmonares.
Dentro dessas definições, precisamos identificar pelo menos 4 critérios para caracterizar SDRA (lembrando sempre que as anormalidades radiológicas devem ser bilaterais e a opacidade deve ter característica inflamatória, não sendo justificada por patologias cardíacas ou tumorais).
Fatores de Risco
Em alguns casos, podemos suspeitar de SARA com maior emergência, como:
- Quando há lesões pulmonares diretas:
- Pneumonias (bacterianas, virais, fúngicas);
- Aspiração de conteúdo gástrico;
- Contusão pulmonar (lembrar que o pico da lesão por contusão pulmonar acontece após 48h);
- Lesão por inalação;
- Afogamento;
- Quando há lesões pulmonares indiretas:
- Sepse;
- Trauma não torácico ou choque hemorrágico;
- Pancreatite;
- Grande Queimado;
- Intoxicações medicamentosas;
- entre outras.
Pilares do Tratamento
Como a resposta respiratória do paciente é prejudicada, a primeira conduta para se tomar é a Ventilação Mecânica Protetora
- Volume Corrente < 6 ml/Kg (podendo chegar até 4 ml/Kg)
Depois buscamos alcançar os índices:
- Pressão de platô < 30 cmH2O
- Driving pressure < 15 cmH2O
- FR preferencialmente entre 30-35
- Balanço hídrico zerado ou negativo
- Bloqueio neuromuscular (quando há assincronias incontroláveis)
Um fato importante a se destacar é que a posição prona em SDRA severa diminui bastante a mortalidade em 28 e 90 dias!
- Prona se paO2/FiO2 < 150 com 12h de ventilação mecânica otimizada – lembrar que a prona deve ser feita por pelo menos 16h).
No caso mais específico de Hipoxemia refratária, nossa conduta segue :
- Administração de corticoide (em casos de COVID-19, discutível em outras etiologias)
- Óxido nítrico inalatório (também em disfunções do VD)
- ECMO (manobra de resgate)
A ventilação oscilatória de alta frequência e a manobra de recrutamento devem ser descartadas (inclusive em questões de prova!), pois na primeira há relatos de aumento da mortalidade (OSCAR e OSCILLATE trial) e a segunda causa outros problemas.
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