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quarta-feira, 04 dezembro
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Colchicina e Infarto do Miocárdio Agudo

As doenças cardiovasculares (DCVs) apresentam uma conexão significativa com condições metabólicas e endócrinas, como diabetes tipo 2 e obesidade, que têm aumentado em prevalência. Essas interações complexas exigem o desenvolvimento de estratégias terapêuticas baseadas em evidências para melhorar a prevenção e o manejo das complicações cardiovasculares.

Nesse cenário, os efeitos de medicamentos anti-inflamatórios em pacientes pós-infarto agudo do miocárdio (IAM) têm sido investigados, destacando-se a colchicina.

Colchicina e Infarto do Miocárdio Agudo: Novas Evidências

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine avaliou a eficácia da colchicina na prevenção de eventos cardiovasculares maiores em pacientes que sofreram IAM. Este ensaio multicêntrico envolveu 7.062 pacientes de 14 países, com idade média de 61 anos, sendo 20,4% mulheres. A maioria dos participantes (95,1%) apresentou IAM com supradesnivelamento do segmento ST (STEMI), e 18,5% tinham diabetes mellitus. Aproximadamente 49% apresentavam doença coronariana multivascular.

Os pacientes foram randomizados para receber colchicina (0,5 mg/dia) ou placebo, com um seguimento médio de três anos. O estudo foi desenhado com um modelo duplo-cego e controlado por placebo, garantindo a padronização no acompanhamento e avaliação dos desfechos.

Resultados Principais

O desfecho primário, composto por morte cardiovascular, reinfarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou revascularização coronariana não planejada, ocorreu em 9,1% dos pacientes no grupo colchicina e em 9,3% no grupo placebo (HR 0,99; IC 95%, 0,85-1,16; P = 0,93). Não houve diferença significativa entre os grupos nos componentes individuais do desfecho primário, como morte cardiovascular (3,3% vs. 3,2%) e reinfarto (2,9% vs. 3,1%).

Além disso, a colchicina reduziu os níveis de proteína C-reativa (PCR), marcador inflamatório, em uma média de 1,28 mg/L (IC 95%, −1,81 a −0,75) após três meses. No entanto, essa redução não se traduziu em benefícios clínicos evidentes.

Efeitos Adversos e Adesão ao Tratamento

A incidência de diarreia foi significativamente maior no grupo colchicina (10,2%) em comparação ao placebo (6,6%; P < 0,001), embora os eventos graves, como infecções, não tenham diferido entre os grupos. Cerca de 25% dos participantes descontinuaram o tratamento durante o seguimento, fator que pode ter influenciado os resultados.

Implicações Clínicas

Os resultados indicam que a colchicina não reduz eventos cardiovasculares maiores em pacientes pós-IAM, apesar de seu efeito anti-inflamatório evidenciado pela redução da PCR. Seu uso deve ser avaliado com cautela, considerando a frequência de efeitos adversos gastrointestinais e a taxa relativamente alta de descontinuação.

Reflexões e Perspectivas

Embora o estudo não tenha demonstrado benefícios clínicos significativos da colchicina, ele reforça a relevância da inflamação como alvo terapêutico em DCVs. Investigações futuras podem focar em subgrupos específicos de pacientes ou em diferentes regimes terapêuticos, considerando variáveis como peso, características clínicas e condições associadas.

Esses dados ajudam a orientar decisões clínicas e ressaltam a importância de continuar explorando alternativas terapêuticas que possam beneficiar pacientes com alto risco cardiovascular.

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