Propedêutica em Uroginecologia: como proceder na clínica ginecológica

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Contextualizando

A uroginecologia é uma área da medicina que se dedica ao estudo e tratamento das disfunções do trato urinário inferior e dos órgãos pélvicos femininos. Para os residentes em ginecologia e outras especialidades, o domínio da propedêutica uroginecológica é fundamental para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento eficaz.

A Importância da Anamnese Detalhada

A anamnese completa é a pedra angular da propedêutica em uroginecologia. Seja para queixas urinárias ou de prolapso vaginal, é crucial detalhar o tempo de duração dos sintomas, a ordem em que surgiram, as comorbidades, os antecedentes cirúrgicos, os hábitos e os medicamentos da paciente.

Fonte: Acervo de Aulas do Grupo MedCof.

Queixas Urinárias

Ao abordar as queixas urinárias, é essencial caracterizar se estão relacionadas à perda urinária, à dificuldade de micção ou a ambos.

  • Perda Urinária: Investigar se a perda está associada a esforço, urgência ou noctúria. A perda insensível também deve ser considerada. A verificação da perda durante a manobra de Valsalva e o teste do cotonete são elementos complementares importantes do exame físico para a incontinência urinária de esforço (IUE).
  • Dificuldade de Micção: Avaliar o número de micções ao dia, o intervalo entre as micções, a sensação de esvaziamento incompleto, o jato fraco e o gotejamento pós-miccional.
Fonte: Acervo de Aulas do Grupo MedCof.

Queixas de Prolapso Vaginal

A principal queixa de prolapso vaginal é a sensação de “bola na vagina”. Outras queixas incluem peso na vagina e dificuldade para urinar ou evacuar devido à presença do prolapso, com necessidade de redução do mesmo. O exame físico com manobra de esforço é fundamental para detectar as distopias.

Fonte: Acervo de Aulas do Grupo MedCof.

Considerações Iniciais na Anamnese

Não se deve negligenciar a anamnese completa, incluindo:

  • Identificação: dados básicos da paciente;
  • Queixa e Duração: detalhes sobre a principal queixa e há quanto tempo ela ocorre;
  • História da Moléstia Atual: desenvolvimento detalhado da queixa principal;
  • Comorbidades e Cirurgias Realizadas: doenças preexistentes e intervenções cirúrgicas;
  • Cirurgia Abdominal ou Pélvica: histórico de cirurgias na região abdominal ou pélvica;
  • Traumas: Eventos traumáticos que possam estar relacionados;
  • Doenças Neurológicas, Tosse Crônica e Constipação: condições que podem influenciar as disfunções urinárias e prolapsos;
  • Limitação da Mobilidade: impacto da mobilidade reduzida nos sintomas;
  • Medicamentos em Uso: especialmente diuréticos, antidepressivos e sedativos;
  • Antecedentes Ginecológicos e Obstétricos: via de parto, tempo do período expulsivo, peso do recém-nascido, lacerações e suturas, e atividade sexual;
  • Hábitos e Vícios: atividade física, tabagismo e etilismo;
  • Antecedentes Familiares: histórico familiar de disfunções urinárias e prolapsos.

Disfunções Urinárias

As disfunções urinárias são divididas em sintomas de armazenamento e de esvaziamento.

Sintomas de Armazenamento

  • Sensibilidade: Avaliar a percepção do enchimento da bexiga.
  • Urgência: Desejo súbito e incontrolável de urinar.
  • Incontinência por Urgência: Perda involuntária de urina associada à urgência.
  • Noctúria: Acordar para urinar durante o período de sono.
  • Enurese: Incontinência intermitente durante o sono.
(Imagem: Pinterest)

Sintomas de Esvaziamento

  • Hesitação: atraso no início da micção;
  • Jato Fraco: jato urinário mais fraco em comparação ao normal;
  • Micção Entrecortada: jato de urina que cessa e recomeça;
  • Esforço para Urinar: necessidade de esforço intenso para iniciar, manter ou melhorar o jato urinário;
  • Gotejamento Terminal: fase final da micção prolongada com fluxo reduzido a pingos;
  • Sensação de Esvaziamento Incompleto: percepção de que a bexiga não está completamente vazia após a micção;

Tipos de Incontinência Urinária

  • Incontinência Urinária de Esforço (IUE): é a perda involuntária de urina ao realizar esforços como tossir, espirrar ou levantar peso. A gravidade pode ser classificada como grande, moderada ou pequena, dependendo do nível de esforço necessário para provocar a perda;
  • Incontinência Urinária Mista: combinação de perda involuntária associada à urgência e ao esforço;
  • Incontinência Urinária Contínua: perda involuntária contínua de urina.

Prolapsos Vaginais

Os prolapsos vaginais manifestam-se principalmente pela sensação de “bola na vagina” ou “peso na vagina”. A paciente pode relatar ter sentido um abaulamento ao se higienizar.

Sintomas Associados

  • Obstrução para a Micção e/ou Evacuação, causando necessidade de reduzir o prolapso para urinar ou evacuar;
  • Lesões na Mucosa da Região Prolapsada, causando secreção e sangramento;
  • Disfunções Sexuais, causando dor e sentimento de vergonha.

Exame Físico

O exame físico deve incluir:

  • Exame Físico Geral: avaliação do estado geral da paciente;
  • Exame Ginecológico: Inspeção, exame especular e toque vaginal;
  • Inspeção: Observação de sinais de dermatite amoniacal, presença de conteúdo líquido no introito vaginal, trofismo e abaulamento no canal vaginal;
  • Avaliação Neurológica: Reflexo bulbocavernoso e reflexo anocutâneo;
  • Avaliação da Perda Urinária: Visualização da perda urinária sincrônica à manobra de esforço, teste do cotonete e teste de Marshall-Bonney;
  • “Pad Test”: Útil para avaliar a queixa de incontinência de esforço, medindo a quantidade de urina perdida durante atividades específicas;
  • Exame Especular e Toque Vaginal Bimanual: Avaliação detalhada das estruturas pélvicas.
  • POP-Q: Pelvic Organ Prolapse Quantification, um sistema de estadiamento para prolapsos.
Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/papanicolau-exame-preventivo-de-colo-de-utero/ 

Exames Complementares

  • Incontinência: excluir infecção urinária com urina tipo 1 e urocultura;
  • Imagem: TC/USG de rins e vias urinárias, ressonância magnética da pelve e cistoscopia;
  • Estudo Urodinâmico: avaliação funcional da bexiga e da uretra.

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