Relembrando a Doença Inflamatória Intestinal: novidades na clínica médica 

0
2605
doença inflamatória intestinal
doença inflamatória intestinal

O que é a doença inflamatória intestinal? 

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) engloba um grupo de condições crônicas que afetam o trato gastrointestinal, principalmente a Retocolite Ulcerativa (RCUI) e a Doença de Crohn (DC). Precisamos relembrar os principais conceitos envolvidos nessas condições, incluindo as novidades de base científica, para auxiliar residentes em medicina na prática clínica.

Como identificar a Doença Inflamatória Intestinal (DII)?

 A DII é uma doença multifatorial influenciada por predisposição genética (como o gene NOD2), fatores ambientais (obesidade, dieta ocidental, industrialização) e uso de anti-inflamatórios e antibióticos. A resposta imune desregulada, com um desequilíbrio entre citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias, desempenha um papel crucial na patogênese da DII.

Retocolite Ulcerativa (RCUI)

A RCUI acomete o cólon e o reto de forma contínua e ascendente. As manifestações clínicas incluem diarreia inflamatória com sangue e muco nas fezes. A biópsia revela criptite, e o marcador sorológico p-ANCA está presente em 60-80% dos casos. A RCUI é restrita à mucosa, e o tabagismo pode ser um fator de proteção.

Fonte: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/casosclinicos/caso-clinico-complicacoes-em-retocolite-ulcerativa/ 

Doença de Crohn (DC)

A DC pode afetar todo o trato gastrointestinal, da boca ao ânus, com um padrão descontínuo. As manifestações clínicas são variáveis, desde dor abdominal e sintomas sub oclusivos até diarreias inflamatórias com sangue. A biópsia revela granulomas não caseosos. O marcador sorológico ASCA está presente em 60-70% dos casos, enquanto o p-ANCA é positivo em 5-15% dos casos. A DC é transmural, levando a complicações como estenose, perfuração, abscessos e fístulas. O tabaco piora a DC.

Fonte: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/casosclinicos/doenca-de-crohn-com-acometimento-esofagico/ 

Manifestações Clínicas da DII

As manifestações clínicas da DII variam conforme o local de acometimento e podem ser intestinais e extraintestinais.

Manifestações Extraintestinais

As manifestações extraintestinais podem estar associadas ou não à atividade da DII:

  • Musculoesqueléticas: Artrite (axial não associada à atividade intestinal, periférica associada ou não);
  • Cutâneas: Pioderma gangrenoso (mais presente na RCUI, não dependente da atividade intestinal), eritema nodoso (mais presente na DC, relacionado à atividade intestinal), úlceras aftosas (relacionadas à atividade intestinal);
  • Oculares: Uveíte (independente da atividade intestinal), episclerite e conjuntivite (associadas à atividade intestinal);
  • Hepatobiliares: Colangite esclerosante primária (CEP, mais associada à RCUI), litíase biliar.
  • Renais: Nefrolitíase por hiperoxalúria entérica;
  • Trombose.

Exames Laboratoriais e Complementares

  • Hemograma: Avaliar anemia e leucocitose;
  • Perfil Nutricional: Albumina, perfil férrico, vitamina B12;
  • Atividade Inflamatória: VHS e PCR;
  • Fezes: Calprotectina e lactoferrina (níveis elevados);
  • Colonoscopia: Principal exame para avaliar o intestino grosso e o íleo terminal. Biópsia é essencial para diagnósticos diferenciais (tuberculose, CMV, herpes, fungos, linfoma, AINEs, colite isquêmica);
  • Endoscopia: Reservada para sintomas do trato gastrointestinal alto;
  • Enteroscopia e Cápsula Endoscópica: Avaliação do intestino delgado, com restrições em casos de sub oclusão/estenose;
  • Exames Radiológicos: Enterografia (entero-TC e entero-RM) para avaliar complicações e extensão da doença.

Classificação da RCUI

A classificação da RCUI, segundo Montreal, considera a topografia do acometimento:

A Proctite/Retite Acomete apenas o reto, a Colite Esquerda acomete até o ângulo esplênico, a Pancolite, por sua vez, causa acometimento após o ângulo esplênico.

A classificação de Truelove e Witts avalia a atividade da doença (leve, moderada, grave) com base em evacuações com sangue, frequência cardíaca, temperatura axilar, hemoglobina e VHS/PCR.

Tratamento da DII

O tratamento visa induzir e manter a remissão, adaptando-se à gravidade da doença:

  •  Leve: RCUI (5-ASA), DC (budesonida entérica ou corticoide sistêmico).
  • Moderada: RCUI (corticoide + 5-ASA ± IS), DC (corticoide ± IS).
  • Grave: Biológico ± IS.
  • Colite Fulminante: Corticoterapia venosa (3-5 dias), infliximab (ou ciclosporina), cirurgia.

Outras medidas incluem hidratação, antibioticoterapia (se necessário), exclusão de Clostridium e CMV, radiografia de abdome e tromboprofilaxia.

Evolução da retocolite. Acervo de Aulas do Grupo MedCof.
Evolução da Doença de Crohn. Fonte: Acervo de Aulas do Grupo MedCof.

Seja um MedCofer!

Quer alcançar a aprovação nas provas de residência médica? Então seja um MedCoffer! Aqui te ajudaremos na busca da aprovação com conteúdos de qualidade e uma metodologia que já aprovou mais de 10 mil residentes no país! Por fim, acesse o nosso canal do youtube para ver o nosso material de revisão e correção.