DII é um termo generalista para fazer referência a doenças que envolvem inflamação crônica do trato digestivo. As doenças que compõem a DII são: Colite Ulcerativa (antigamente chamada de Retocolite ulcerativa) e Doença de Crohn.
Os sintomas principais são diarreia, dor abdominal tipo cólica, sensação intensa de evacuar mas não ocorre o esvaziamento total ou, simplesmente, nem ocorre a evacuação, além disso também é visto perda de peso e sintomas de fadiga.
Alguns diagnósticos diferenciais são: colites infecciosas, colite pseudomembranosa, colite por irradiação, colite isquêmica, ileíte infecciosa, ileíte por AINE (anti-inflamatório não esteroidal) etc.
A colite ulcerativa afeta o cólon, enquanto a doença de Crohn pode envolver qualquer estrutura do trato gastrointestinal, desde a região perianal até a boca.
Elas são bem confundidas na prática médica, mas, quando vamos observar atentamente, as características patológicas e clínicas são bem diferentes!
Na colonoscopia, a colite ulcerativa apresenta envolvimento contínuo e circunferencial, sem áreas normais de mucosa. Já na doença de Crohn encontraremos eritema irregular característico e ulceração que ocorrem próximo a áreas de mucosa normal.
Colite Ulcerativa
A colite ulcerativa é caracterizada pela ocorrência de episódios de inflamação limitada a camada mucosa do cólon. Normalmente afeta o reto e pode expandir para demais partes do cólon. A apresentação clínica da colite ulcerativa é DIARREIA com sangue, dor abdominal do tipo cólica e tenesmo. Pacientes, principalmente com acometimento distal do cólon, podem apresentar constipação acompanhada com frequentes eliminações de sangue e muco. Normalmente os sintomas são graduais e progressivos durante várias semanas. Os sintomas podem ser precedidos por episódios de sangramento retal autolimitado de semanas até meses anteriores.
Ao exame físico, pacientes com doença leve não tem alterações, mas em pacientes com a manifestação moderada ou grave da colite ulcerativa podemos achar sensibilidade abdominal durante a palpação, febre, hipotensão, taquicardia e palidez cutânea. Ao exame de toque retal podemos, claro, encontrar sangue! Por isso devemos sempre realizar esse exame na nossa avaliação de pacientes com queixa de diarreia crônica. Ainda, esses pacientes perdem muito tecido muscular e subcutâneo, podendo causar edema periférico devido a perda de peso e desnutrição.
Algumas complicações agudas da colite ulcerativas são: sangramento intenso, colite fulminante, megacólon tóxico e perfuração de cólon, que normalmente é uma consequência do megacólon tóxico.
Também devemos lembrar da existência de manifestações extraintestinais! As alterações mais comuns são: artrites, uveíte, eritema nodoso, pioderma gangrenoso, colangite esclerosante primária, risco aumentado para tromboembolismo venoso e arterial, anemia hemolítica autoimune, dentre outras.
O diagnóstico é baseado em: CLÍNICA COMPATÍVEL, COLONOSCOPIA COM ACHADOS INFLAMATÓRIOS MACRO E MICROSCÓPICOS l. Importante ressaltar que como essas características são um tanto quanto genéricas, o diagnóstico também requer exclusão de outras causas de colite por anamnese, estudos laboratoriais e pela biópsia obtida pela colonoscopia.
O tratamento é guiado pela gravidade do paciente: na manifestação severa da colite ulcerativa temos um risco aumentado para colectomia e complicação do uso sistêmico de glicocorticóides por longos períodos. O objetivo é alcançar a cicatrização completa da camada mucosa e aumentar a probabilidade de remissão sustentada da doença livre de glicocorticóides e prevenir hospitalizações e cirurgias.
Doença de Crohn
A doença de Crohn é caracterizada pela inflamação transmural (todas as camadas!!) e pode envolver qualquer porção luminal do trato gastrointestinal, desde cavidade oral até região perianal. A doença de Crohn pode ser classificada baseada no tempo de doença, local acometido e tipo de comportamento.
Os sintomas são: dor abdominal, diarreia, fadiga e perda de peso. Além de manifestações extraintestinais como artrite ou artropatia, uveíte, eritema nodoso, pioderma gangrenoso, litíase renal, bronquite crônica, doença pulmonar intersticial, sarcoidose entre outras.
Ao exame físico, pode ter apresentação inespecífica como perda de peso, como também apresentar-se sem alterações. Nos exames laboratoriais podemos encontrar anemia, número aumentado de leucócitos, elevação do PCR, algumas alterações em eletrólitos, deficiência de ferro, vitamina B12 e vitamina D.
O diagnóstico é determinado como na Retocolite – achados radiológicos, endoscópicos e histológicos (biópsia) que demonstram inflamação segmental e transminal do lúmen do trato gastrointestinal no paciente com clínica compatível (dor abdominal, diarreia crônica e intermitente).
Durante a colonoscopia a característica principal que encontramos são as lesões ulceradas. Podemos observar na imagem A úlceras aftosas, que são observadas como lesões precoces. Na imagem B podemos observar grandes úlceras intercaladas com mucosa normal, típicas da distribuição segmentar da doença de Crohn. Na imagem C visualizamos o aspecto de paralelepípedo causado pelo espessamento nodular com úlceras lineares ou serpiginosas. E por fim, na imagem D temos estenoses por fibrose.
E aí, deu pra relembrar bem as características de cada uma?
Referências bibliográficas:
Imagem e Legenda:
Paul Rutgeerts, MD, PhD, FRCP. Endoscopic findings in Crohn disease. UpToDate. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=GAST%2F74646&topicKey=GAST%2F4070&search=crohn%20&rank=1~150&source=see_link
Texto:
Mark A Peppercorn, MD, Sunanda V Kane, MD, MSPH. Clinical manifestations, diagnosis, and prognosis of Crohn disease in adults. UpToDate. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-diagnosis-and-prognosis-of-crohn-disease-in-adults?search=crohn%20&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1
Por Beatriz Stoianovi
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