Doença Ulcerosa Péptica: sinais e sintomas, diagnóstico, fatores de risco e mais!

0
11

Neste artigo, você entenderá um pouco mais sobre a Doença Ulcerosa Péptica que acomete cerca de 10% da população mundial.

Introdução

A Doença Ulcerosa Péptica (DUP) é definida como a ruptura da barreira defensiva da mucosa epitelial do estômago e duodeno, causada pelo desequilíbrio entre fatores de proteção e de destruição que atuam na homeostase da mucosa.

Diferente de outras patologias, a doença ulcerosa péptica só pode ser diagnosticada a partir da evidência endoscópica da visualização da lesão, por isso, lança-se mão de classificações convencionadas para facilitar a identificar o grau da lesão e seu estágio atual, que serão imprescindíveis para o manejo adequado da DUP.

Manifestações Clínicas da Doença Ulcerosa Péptica

A DUP é assintomática em aproximadamente 70% dos casos, sendo comum que os sintomas se manifestem durante complicações.

Nos casos sintomáticos, a dispepsia é uma queixa comum, caracterizada por uma dor epigástrica em queimação com padrão cíclico relacionado aos hábitos alimentares.

Relação da alimentação com a dor!

  • Úlceras duodenais: Alívio com alimentação e antiácidos, piora durante estresse emocional, ocorrendo 2-5 horas após a refeição, especialmente à noite (despertar noturno).
  • Úlceras gástricas: Piora com alimentação, frequentemente associada a náuseas e perda ponderal.
  • Úlceras do canal pilórico: Dor epigástrica, arrotos pós-prandiais, plenitude epigástrica, saciedade precoce, intolerância a alimentos gordurosos, náuseas e vômitos ocasionais. 

Outros sintomas incluem náuseas, vômitos, anorexia e distensão abdominal. Complicações podem manifestar-se com hemorragia (hematêmese ou melena), abdome agudo e sintomas obstrutivos.

Diagnóstico da DUP

O diagnóstico é confirmado por visualização direta da lesão, sendo essencial uma anamnese detalhada e exame físico para criar a suspeita e prosseguir com a investigação.

A endoscopia é o padrão-ouro, recomendada para pacientes com sintomas dispépticos acima de 45 anos ou sinais de alerta para malignidade.

Sinais de Alerta:

  • Perda de peso;
  • Anemia;
  • Disfagia;
  • Vômitos;
  • Icterícia;
  • Hematêmese;
  • Massa palpável ou linfonodomegalia;
  • História familiar de neoplasia;
  • Gastrectomia prévia;

Para saber mais sobre os achados endoscópicos da doença ulcerosa péptica acesse o nosso post: “Doença Ulcerosa Péptica: Aprenda as classificações endoscópicas desta patologia!”

Além da endoscopia temos os testes diagnósticos para o H.pylori, para investigar a necessidade de fazer o tratamento de erradicação ou não.

TESTESENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADECARACTERÍSTICA
Teste rápidode urease98% / >93%Invasivo
Histopatológico>93% / >95%Padrão-Ouro Invasivo
Cultura77-92% / >97%Invasivo Determina sensibilidade da bactéria
Elisa88-99% / 86-95%Não invasivo Não pode ser utilizado como controle de cura
Teste de ureia respiratória>90% / >89%Não invasivo – Bom para controle de cura.

Outros exames laboratoriais podem ser solicitados dependendo da suspeita clínica, incluindo hemograma, bioquímica hepática, creatinina sérica e cálcio.

Para pacientes que apresentam sintomas dispépticos mas não possuem indicação de realização de EDA, pode-se utilizar métodos não invasivos para detectar infecção por H.pylori e iniciar tratamento empírico com inibidores da bomba de prótons por cerca de 4 semanas.

Tratamento e Perspectivas Futuras

O tratamento da DUP é multifacetado e pode envolver medicamentos para supressão ácida, erradicação do H. pylori e manejo de complicações. Abordaremos opções de tratamento mais detalhadamente em artigos subsequentes.

Fique atento para atualizações sobre a doença ulcerosa péptica. Para informações mais recentes e abrangentes, continue acompanhando nossos artigos dedicados a este tema essencial na medicina.

Aprenda as classificações endoscópicas desta patologia

Indicações de EDA na DUP

As indicações de Endoscopia Digestiva Alta (EDA) na doença ulcerosa péptica estão baseadas na história sugestiva e risco de gravidade. Portanto, a EDA está indicada para qualquer paciente que apresente sinais de alarme, com história clínica sugestiva de doença ulcerosa.

Fique de olho nos sinais de alarme!

  • Idade ≥ 40-55 anos (depende da literatura);
  • História familiar de câncer gastrintestinal;
  • Emagrecimento;
  • Sangramento gastrintestinal;
  • Anemia ferropriva de etiologia inexplicada;
  • Disfagia ou odinofagia;
  • Vômitos persistentes;
  • Massa palpável;
  • Icterícia;
  • Linfadenopatia. 

Classificação de Sakita

A classificação de Sakita vai estratificar em que fase do ciclo evolutivo a úlcera está.

Acervo de ilustrações Grupo MedCof
  • A1 (Active) : Lesão com bordas planas e nítidas, fundo com fibrina e/ou restos necróticos;
  • A2 (Active) : Lesão com bordas bem definidas, podem ser elevadas e nítidas, fundo com fibrina espessa clara;
  • H1 (Healing): Fibrina mais tênue, convergência de pregas, com hiperemia marginal;
  • H2 (Healing): Ilhas de tecido de regeneração, convergência nítida e hiperemia marginal;
  • S1  (Scar): Cicatriz vermelha com reação inflamatória adjacente residual;
  • S2  (Scar): Cicatriz branca, com retração adjacente variável, com resolução do quadro.

Classificação de Johnson

Já a classificação de Johnson para a úlcera péptica leva em consideração a localização da úlcera, correlacionando com o estado de hipo, hiper ou normocloridria. Confira a classificação abaixo:

Fonte: Google imagens.
  • Tipo I (60-70%): pequena curvatura junto a incisura angularis – normo ou hipocloridria;
  • Tipo II (15%): gástrica ou duodenal – hipercloridria;
  • Tipo III ( 20%): pré-pilórica até 3 cm do piloro – hipercloridria;
  • Tipo IV (<5%): úlcera alta, corpo proximal ou cardia – normo ou hipocloridria; e
  • Tipo V: várias úlceras, em qualquer região, causadas por ANES.

Classificação de Forrest

Por fim, a classificação de Forrest para a úlcera péptica hemorrágica vai estadiar o risco de ressangramento a partir da visualização direta da lesão. Observe abaixo:

ForrestAchado endoscópicoTaxa de ressangramento
Sangramento ativo
IASangramento “em jato” – arterial> 90%
IBSangramento “em babação” – venoso30-51%
Sangramento recente
IIAVaso visível sem sangramento25-41%
IIBCoágulo aderido10-20%
IICBase com hemantina0-30%
Sem sinais de sangramento
IIIBase limpa, sem sangramento0-2%
Fonte: Google imagens.

Tratamento Clínico

Manejo não farmacológico 

Para todos os pacientes, é crucial adotar estratégias não farmacológicas, eliminando fatores de risco como o uso de AINES, tabagismo e consumo excessivo de álcool. Estimular a perda de peso em casos de sobrepeso e evitar alimentos que exacerbam os sintomas são medidas essenciais.

Tratamento farmacológico

Inibidores da bomba de Prótons (IBP)

Os IBPs são a primeira linha de tratamento para úlceras pépticas, reduzindo a secreção gástrica e, consequentemente, mitigando a agressão que leva à lesão e aos sintomas clínicos.

  • Ausência de infecção por H. pylori:
    • Úlceras duodenais não complicadas: IBP por 4 semanas.
    • Úlceras gástricas ou duodenais complicadas: IBP por 8 semanas.
    • Retomar o tratamento em caso de recidiva.
  • Presença de H. pylori em úlceras não complicadas: Iniciar IBP e, após 1 semana, iniciar o tratamento de erradicação.
  • Presença de H. pylori em úlceras complicadas: Iniciar IBP EV em alta dose, mudando para via oral quando viável, reduzindo a dose por 4 a 12 semanas.

O uso contínuo de IBP é indicado se o paciente apresentar mais de duas das seguintes situações:

  • Úlcera > 2 cm, idade > 50 anos ou múltiplas comorbidades.
  • Ausência de H. pylori e de uso de AINE.
  • Úlcera refratária (úlcera > 5 mm após 12 semanas de terapia antissecretora).
  • Falha em erradicar H. pylori.
  • Úlcera recorrente (> 2 episódios por ano).
  • Uso contínuo de AINE.

Os antagonistas de receptor H2 (Cimetidina e Ranitidina) são a segunda opção na primeira linha de tratamento, enquanto os antiácidos são fármacos de segunda linha.

Erradicação do H.pylori

O tratamento de erradicação do H. pylori é crucial para pacientes com sintomas dispépticos ou úlcera péptica (sintomática ou não), evidenciando infecção por essa bactéria.

A erradicação é realizada com Claritromicina 500mg + Amoxicilina 500mg, a cada 12 horas por 14 dias, associado a IBP.

O controle de cura é recomendado após 4 semanas do término do tratamento, especialmente em úlceras gástricas, devido à possibilidade de neoplasia.

Em casos de complicações, falhas no tratamento ou recidivas, o manejo cirúrgico é considerado.

Seja um MedCofer!

Quer alcançar a aprovação nas provas de residência médica? Então seja um MedCofer! Aqui te ajudaremos na busca da aprovação com conteúdos de qualidade e uma metodologia que já aprovou mais de 10 mil residentes no país! Por fim, acesse o nosso canal do youtube para ver o nosso material.