A espirometria é uma ferramenta fundamental na prática clínica pneumológica, oferecendo insights valiosos sobre a função pulmonar. Com os novos casos de Metapneumovírus, as síndromes respiratórias voltaram a atenção das mídias, por isso são temas importantes para as próximas provas de residência médica. Então, vamos relembrar os aspectos essenciais da interpretação e aplicação clínica da espirometria.
Fundamentos Fisiológicos
Antes de mergulharmos nos detalhes técnicos, é crucial compreender a base fisiológica por trás da espirometria. A segmentação brônquica, desde a traqueia até os sacos alveolares, resulta em diferentes calibres de vias aéreas, influenciando diretamente os fluxos e resistências aéreas. A espirometria captura a resultante dessas variações, fornecendo uma visão global da função pulmonar.
Volumes e Capacidades Pulmonares
Essas medidas são nomeadas conforme alguns critérios:
- Volume Corrente (VC): Volume de ar movimentado durante a respiração tranquila.
- Capacidade Pulmonar Total (CPT): Volume máximo de ar nos pulmões após inspiração profunda.
- Volume Residual (VR): Volume de ar que permanece nos pulmões após expiração máxima.
- Capacidade Vital (CV): Diferença entre CPT e VR, representando o volume máximo que pode ser mobilizado.
Técnica e Interpretação da Espirometria
Morfologia da Curva
A análise da morfologia da curva é o primeiro passo crucial na interpretação da espirometria. Uma curva aceitável deve apresentar:
- Pico bem definido na alça expiratória
- Formato elíptico na alça inspiratória
- Ausência de artefatos (tosse, fechamento precoce da glote)
Os tipos de curva são classificados de A a H, onde A é a chuva típica fluxo-volume e as demais implicam erros técnicos. A curva B configura atraso no sopro; a curva C e D apresentam volume subótimo, ou seja, volume reto extrapolar; a curva E evidência término abrupto do fluxo; a curva F tem presença de serrilhado, que causa variação do fluxo aéreo; a curva G tem expiração abrupta; a curva H tem inflexão da curva, representando alteração no esforço respiratório.
Parâmetros Essenciais
- CVF (Capacidade Vital Forçada): Ideal > 10s, aceitável > 6s
- VEF1 (Volume Expiratório Forçado no 1º segundo)
- VEF1/CVF: Relação crucial para identificar obstrução
Critérios de Normalidade
- VEF1: > 80% do previsto ou acima do LIN (Limite Inferior da Normalidade)
- CVF: > 80% do previsto ou acima do LIN
- VEF1/CVF: > 0,70 ou acima do LIN
Padrões de Distúrbios Ventilatórios
Quando os padrões não são respeitados, podemos identificar alguns distúrbios conforme a maneira e intensidade da irregularidade. Dentre eles temos: Distúrbio Ventilatório Obstrutivo, Distúrbio Ventilatório Restritivo, Distúrbio Ventilatório Inespecífico e Distúrbio Ventilatório Misto/Combinado.
Distúrbio Ventilatório Obstrutivo (DVO)
Os padrões encontrados nesse tipo são:
- VEF1/CVF < 0,70 ou LIN
- VEF1 < 80% do previsto
- CVF pode estar normal ou reduzida
Gravidade do DVO também pode ser nivelada conforme a intensidade dos padrões encontrados:
- Leve: VEF1 60-80% do previsto
- Moderado: VEF1 40-60% do previsto
- Grave: VEF1 < 40% do previsto
Distúrbio Ventilatório Restritivo (DVR)
Os padrões encontrados são:
- VEF1/CVF normal ou aumentada
- CVF reduzida (< 50% do previsto ou 51-65% com alta probabilidade clínica)
- VEF1 reduzido proporcionalmente à CVF
Distúrbio Ventilatório Misto (DVM)
Combina características de DVO e DVR. Uma dica valiosa é calcular a diferença entre %CVF e %VEF1:
- ≥ 25 pontos percentuais: provável hiperinsuflação associada
- 13-25 pontos percentuais: mecanismo de redução incerto
- < 12 pontos percentuais: provável restrição verdadeira
Distúrbio Ventilatório Inespecífico (DVI)
Nesse tipo encontramos:
- VEF1/CVF normal
- CVF e VEF1 reduzidos proporcionalmente
- CVF entre 50% e 80% do previsto
Ponto chave: Prova Broncodilatadora
Essencial para avaliar a reversibilidade da obstrução e diferenciar condições como asma e DPOC.
Critérios para resposta positiva são:
- Aumento do VEF1 ou CVF ≥ 200ml E ≥ 12% do valor absoluto pré-broncodilatador
Aplicações Clínicas
Asma
Tipicamente apresenta DVO com resposta broncodilatadora positiva. Nesse caso, a espirometria pode ser normal em períodos assintomáticos.
DPOC
DVO geralmente sem resposta broncodilatadora significativa. Importante notar que até 40% dos pacientes com DPOC podem apresentar resposta broncodilatadora positiva.
Doenças Restritivas
Suspeitar de DVR em casos de:
- Doenças pulmonares intersticiais
- Deformidades da caixa torácica
- Derrame pleural
- Doenças neuromusculares
- Obesidade mórbida
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