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quinta-feira, 21 novembro
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Neuropatia Óptica e uso de Semaglutida: o que têm em comum?

Sejam todos muito bem-vindos a nossa nova newsletter! Hoje temos a importante (e também interessante) missão de discutir sobre uma das drogas mais prescritas na endocrinologia atual. Nada mais, nada menos que a semaglutida!

Texto escrito por: Leonardo Tavares endocrinologista com título de especialista pela SBEM (ex-medcoffer) e atualmente fellow em endocrinologia na FMUSP.

Uso de Semaglutida e Neuropatia Óptica

Uma publicação realizada no mês de Julho nos fez questionar sua segurança oftalmológica. O artigo “Risk of Nonarteritic Anterior Ischemic Optic Neuropathy in Patients Prescribed Semaglutide”, publicado em um importante periódico (JAMA) levantou a hipótese de uma possível correlação entre o uso de Semaglutida e Neuropatia Óptica.

Sabemos que não é de hoje que se questiona a piora de doenças oftalmológicas com o uso de alguns medicamentos incretínicos. Expressamente, ao se ler a bula da semaglutida, o laboratório fabricador da medicação afirma uma provável piora de retinopatia diabética. Desde então, tais pacientes são sempre excluídos dos trials que envolvem agonistas de GLP-1, sejam eles únicos, duplos e/ou triplos. Levanta-se a hipótese, de que um rápido controle glicêmico, além de queda abrupta de índices laboratoriais possa ser a possível explicação, como ocorre também em pacientes submetidos a cirurgias metabólicas.

Após esse breve refresh histórico de semaglutida vs. oftalmopatia, se é que podemos criar essa disputa, vamos detalhar a publicação citada no parágrafo anterior.

Risk of Nonarteritic Anterior Ischemic Optic Neuropathy in Patients Prescribed Semaglutide

Trata-se de um estudo retrospectivo com acompanhamento de pacientes entre o período de dezembro de 2017 até novembro de 2023. Todos, obrigatoriamente, eram usuários de semaglutida, sendo divididos entre portadores de DM e pacientes com obesidade.

Avaliaram-se 16.827 pacientes. 710 tinham DM2 (194 receberam prescrição de semaglutida; 516 com prescrição de outros medicamentos antidiabéticos que não aGLP-1) e 979 eram pacientes com obesidade ou sobrepeso (divididos em 361 com semaglutida prescrita e outros 618 pacientes que utilizaram outros medicamentos anti-obesidade).

Constatou-se que na população com DM2 evidenciou-se 17 eventos de NAION (Neuropatia óptica isquêmica anterior não artrítica) em pacientes utilizando semaglutida versus 6 na coorte das demais medicações. Em uma avaliação de 36 meses retrospectivos tivemos números absolutos de 8,9% de eventos de NAION em usuários de aGLP-1 contra 1,8% nos demais, configurando um risco superior a 4x.

Já na população de pacientes com sobrepeso ou obesidade, ocorreram 20 eventos NAION em usuários de semaglutida contra 3 episódios em não usuários. Números avaliados em 36 meses, os usuários de semaglutida apresentaram 6,7% contra 0,8% de não usuários, o que configura um crescimento ainda mais impactante, superior a 7x.

Todos os resultados descritos podem comprovar-se e analisar-se nas curvas que colocaremos abaixo:

Desta forma, os autores concluíram uma provável correlação, diretamente proporcional, do aparecimento de NAION com uso da Semaglutida.

Análise do time MedCof

Ao analisar e interpretar qualquer artigo devemos ter como base:

  • Conhecimentos prévios;
  • Estudos com endpoint ou achados secundários semelhantes;
  • Olhar crítico na metodologia.

Primeiramente é importante mencionar que qualquer coorte tem suas limitações. Além disso, o estudo de Hathaway et al. apresentou dados de um único centro oftalmológico nos EUA, podendo ser apenas um achado ocasional. Além disso, não houve descrição do tempo de doença dos pacientes, níveis glicêmicos de acompanhamento, tempo de uso das medicações e dose da semaglutida de forma detalhada para análise de efeito causa-consequência.

A repercussão do estudo, sem uma análise crítica específica, foi tão grande que levou ao recebimento de diversas “letters” por parte do periódico. Além de posicionamentos de importantes sociedades brasileiras (incluindo a SBEM). Além disso, sabemos que a semaglutida vem sendo, de longe, a medicação mais prescrita para tratamento da obesidade. Tal estudo recebeu holofote até da mídia geral (não médica), com informações incompletas e enfoque apenas na manchete.

Retornando aos posicionamentos de sociedades científicas, todas foram em encontro às limitações dos estudos, enfatizando uma possível associação, porém reafirmando que não há contraindicação absoluta ao uso da medicação, a qual já se mostrou muito eficaz como tratamento seguro e primordial para pacientes com DM e obesidade.

Mediante a tudo exposto anteriormente, acreditamos que seja possível haver uma relação do uso da semaglutida com alterações oftalmológicas. Porém, estudos prospectivos com N adequado e sobretudo multicêntricos precisam ser elaborados para entendimento do efeito causa-consequência, dado que os mesmos são apenas levantadores de hipótese e não permitem associação causal.

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