Você já sentiu que era uma fraude? Ou acreditou em algum momento que todo mundo acha você mais inteligente do que você realmente é? Esse fenômeno vem se tornando cada vez mais comum.
O Fenômeno do Impostor foi descrito pela primeira vez por um grupo de pesquisadores liderados por Clance e Imes em 1978. Esse conceito foi criado para descrever sentimentos e autopercepções que seriam feitas de um ponto de vista de um impostor. O que acontece é que a pessoa que apresenta esse tipo de percepção/sentimento sobre si tem a tendência a atribuir isso a fatores externos e não à sua própria habilidade e esforço pessoal. Sendo assim, pessoas que sofrem essa condição são incapazes de receber elogios e/ou reconhecimento diante de suas vitórias e conquistas.
E é claro que os médicos não escapam dessa condição. Um estudo de 2018 realizado nos EUA avaliou a prevalência de Fenômeno do Impostor e Burnout entre cirurgiões gerais e residentes de cirurgia geral.
O Burnout também é uma condição que envolve o ambiente profissional, sendo considerado um diagnóstico ambiental. É caracterizado pela exaustão emocional, despersonalização e redução de conquistas pessoais e está associado à diminuição da qualidade e produtividade no trabalho assim como diminuição significativa na qualidade de vida.
O Burnout ainda não é considerado uma doença pelo DSM atual, mas acreditamos que essa realidade vai mudar nas próximas atualizações do manual.
Não é novidade que o ambiente cirúrgico exige muita disciplina e dedicação – erros não são tolerados – o que acaba se tornando um ambiente propício para o Burnout e Síndrome do Impostor.
Através de dois formulários anônimos, sendo um deles a Escala Clance de Fenômeno do Impostor, o estudo demonstrou que residentes de cirurgia geral tiveram scores significantemente mais altos do que os chefes da mesma área. Os autores foram incapazes de determinar como o Burnout e Fenômeno do Impostor atuam diretamente entre si, porém os resultados mostram que tanto o corpo docente quanto os residentes que sofrem de Burnout estão mais propensos a referir sintomas relacionados ao Fenômeno do Impostor.
É importante relembrar que as especialidades cirúrgicas ainda tem mulheres como minoria, o que torna esse ambiente de trabalho ainda mais difícil por terem de superar diversos preconceitos, se esforçando mais para receber o mínimo reconhecimento que os homens recebem com pouco trabalho. Entretanto o número de médicas na área cirúrgica aumenta a cada dia, tornando-as exemplo para que outras estudantes de medicina venham a seguir a carreira.
Dessa forma, observamos que mesmo os profissionais de saúde, que têm conhecimento sobre adoecimento e sofrimento mental, estão propensos a sentir insegurança, ansiedade e depressão que refletem na sua produtividade e qualidade no âmbito profissional.
O tema tem crescido tanto que foi criado até um novo tipo de prevenção – no que diz respeito à prevenção do Burnout em profissionais de saúde e apareceu principalmente após o desenvolvimento da pandemia da COVID19.
E você, como lida com sua carreira e conquistas? Acha que é só sorte ou acredita no seu próprio potencial?
Referências bibliográficas:
- Leach PK, Nygaard RM, Chipman JG, Brunsvold ME, Marek AP. Impostor Phenomenon and Burnout in General Surgeons and General Surgery Residents. Journal of Surgical Education. 2019 Jan;76(1):99–106.
- Bezerra TCG, Barbosa LHG de M, Vione KC, Athayde RAA, Gouveia VV. Escala Clance do Fenômeno do Impostor: Adaptação Brasileira. Psico-USF. 2021 Jun;26(2):333–43. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusf/a/fKftCy3xJsDYyQyMF9D5VFh/abstract/?lang=pt
Por Beatriz Stoianovi
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