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sexta-feira, 22 novembro
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Teste do Coraçãozinho – Como ler um resultado e dar a conduta?

Teste do Coraçãozinho – Como ler um resultado e dar a conduta?

teste do coraçãozinho

Imagine o seguinte caso: nasce um bebê lindo num parto normal, com pré-natal sem nenhum problema e mãe perfeitamente saudável. O bebê nasce a termo, com peso ideal, e vai pra casa perfeito sem nenhuma alteração em exame físico. Alguns dias depois, em casa, fica cansadinho e depois é encontrado morto. A família lamenta muito, “o bebê não vingou”. O que pode ter acontecido?

Neste texto, vamos olhar pra um conhecimento essencial na neonatologia, que todo médico deve saber (pra vida e pra prova de residência também!), pelo menos o básico, e que poderia ter evitado a morte desse bebê hipotético.

Sabemos que uma das práticas mais importantes na assistência médica a um recém nascido é a execução das triagens neonatais. São testes realizados com o intuito de detectar doenças ocultas que podem ter seu prognóstico alterado pelo diagnóstico precoce. O teste que vamos estudar agora não é tão conhecido quanto o famoso teste do pezinho, mas tem uma importância tão grande quanto. Todo médico deve conhecer e saber minimamente a interpretação do mesmo e as condutas associadas. É o teste do coraçãozinho, que constitui a triagem para cardiopatia congênita.

Quando realizar o teste do coraçãozinho?

Na maternidade, entre 24 e 48 horas de vida.

Como realizar?

Por meio da aferição da saturação parcial de oxigênio, em dois pontos: membro superior direito e algum membro inferior (tanto faz o lado).

Como funciona?

O MSD é irrigado por ramos da subclávia direita, que é uma artéria que sai do arco da aorta ANTES da entrada do ducto arterioso (aquele que conecta o tronco pulmonar com o arco aórtico, na circulação fetal, e que se fecha fisiologicamente na vida extra uterina). Os MMII são irrigados por ramificações das ilíacas, que são as bifurcações finais da aorta, obviamente numa topografia que fica após a entrada do mesmo ducto. Dizemos que o MSD recebe irrigação pré-ductal, e os MMII pós-ductal.

Teoricamente, não deve haver passagem de sangue pelo ducto arterioso. Se houver, os MMII vão receber sangue misturado (oxigenado que veio do ventrículo esquerdo + não oxigenado que veio do tronco da artéria pulmonar pelo ducto arterioso).

E como interpretar?

  1. Não pode haver hipoxemia. Resultado inferior a 95% em qualquer extremidade é anormal.
  2. Não pode haver diferença significativa entre a circulação pré ductal e pós ductal, pois esperamos que não haja fluxo pelo ducto arterioso, sem misturar o sangue oxigenado e não oxigenado. Ou seja, se houver diferença de 3% ou mais entre MSD e algum MI, está anormal.

O que fazer perante resultado normal?

Manter rotina neonatal!

O que fazer perante resultado anormal?

Aí é que a coisa complica: devemos primeiro pensar se o teste foi verdadeiro → Repetiremos em 1h. Se normal, paz e alta para casa! Se anormal, aí sim encaminhamos o RN para investigar cardiopatias congênitas, através do ECOCARDIOGRAMA.

O bebê no nosso caso hipotético, muito provavelmente, morreu por uma cardiopatia congênita que poderia ter sido detectada nessa triagem! De fato, 70% das crianças com cardiopatias congênitas críticas são detectadas com esse simples teste, permitindo a investigação ecográfica e manejo adequados.

Então: atenção sempre! Para vida e para as provas, é importante saber! Não podemos ter dúvidas na interpretação do teste e nas condutas relacionadas a esses pequenos e, às vezes, problemáticos, coraçõezinhos.

Por Gustavo Boog

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria

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